Educar, arstistando.
Diferenciar, arriscando-se. Usufruir do prazer de criar, sem nos
considerarmos nunca uma “obra de arte” acabada. Assumir o risco
de educar “na diferença”, para que o consenso nunca mais feche
os horizontes sociais, empurre-nos para o conservadorismo, ou
violente a radical heterogeneidade da cultura. Trabalhar e viver
assim, para tornar nossa vida e a dos outros mais belas e dignas de
serem vividas. Esta será nossa prática de liberdade em Educação,
no século que inicia. Que tenhamos coragem, forças e vontade ética
para tanto. (CORAZZA, 2001, p. 30)*
Pensar a sociedade e a infância é reconhecer que ambas sofreram e sofrem mudanças constantes ao longo da história da humanidade. Tanto a primeira como a segunda são
construções históricas, criadas pelas mudanças
culturais e necessidade de adaptação social dos indivíduos. Se analisarmos historicamente nossas relações e educação foram primordialmente influenciadas pela religião, pelas elites, movimentos sociais e políticos. Assumindo que essas construções são históricas, devemos compreender que as relações mudam, os padrões se transformam e se produzem novas condições de ser e estar na sociedade. Sendo assim, se antes era "normal" fazer algo, pode ser que hoje não seja mais. Isso ocorre porque somos seres em evolução, nossa capacidade de pensar e refletir sobre nossos atos nos possibilita modificar o meio em que vivemos e estabelecer novos padrões, nos valendo do conhecimento adquirido historicamente, podemos aperfeiçoá-lo.
Faço essa breve introdução para pensarmos questões que estamos vivenciando ultimamente de preconceito tanto de raça como de orientação sexual. Se antigamente a sociedade escondia, recriminava e punia "a diferença", hoje não podemos encarar situações como as que vivemos, normais. Não é aceitável, com todo conhecimento que temos, que tenhamos o direito de agredir física, ou verbalmente uma pessoa por ela ser diferente de nós, ou do que consideramos a maneira correta de ser.
Nenhuma criança nasce preconceituosa. Na escola, as crianças pequenas não recriminam os colegas por serem de cor diferente, por serem diferentes.. Obviamente você escuta alguma criança branca se referindo à cor da pele de uma criança negra como "a fulana é pretinha", mas simplesmente pelo fato de ela reconhecer as diferenças de sua cor e a do outro. Sem trazer toda implicação histórica que essa diferença tem. Quem direciona para esse outro foco, somos nós adultos. Não precisamos admitir que somos todos iguais, pois não somos. Somos seres de uma mesma espécie, com características semelhantes, porém com especificidades e singularidades. Não ofende dizer que o outro é diferente de mim, mas a maneira como explicito essa diferença é onde está o problema.
Antigamente era normal que os brancos escravizassem e humilhassem os negros, hoje não é (falo normal, mas não acredito que isso poderia de alguma forma ser aceitável). Antigamente era normal as crianças participando da vida adulta, como se fossem mini-adultos, hoje não é. Antigamente se escondiam as crianças com necessidades especiais, com deficiências, hoje nós buscamos incluí-las no convívio social da melhor maneira possível. O conhecimento nos traz o poder de melhor compreender nossas relações e modificá-las.
Estes são apensas alguns exemplos de que a sociedade está em constante movimento, e que graças a pesquisas, estudos, teorias, estudiosos, seres iluminados, estamos tentando buscar uma vida mais justa e bela para todos nós. Não é a hora de retroceder e voltar aos hábitos de quando éramos todos seres brutos, sem conhecimento, capacidade de pensar e ter compaixão.
Tenham todos um ótimo final de semana,
Virginia.
*CORAZZA,
Sandra
Mara.
Na
diversidade
cultural,
uma
“docência
artística”.
In:
Pátio,
Revista
Pedagógica.
Ano
V,
n.
17,
maio/junho
2001
– p.
27-30.